UMA SINTÉTICA VISITA À HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA DE MODA

Em meus anos de ensino, tenho percebido o quanto é difícil para os alunos formarem uma visão geral dos movimentos e períodos da história da fotografia de moda.

Por isso elaborei a sintética descrição que estou aqui apresentando, que longe de querer ser definitiva, pode ser um bom ponto de partida para um estudo mais aprofundado e para entender a fotografia de moda.

Analisada pelo ponto de vista da linguagem fotográfica, a Fotografia de Moda pode ser dividida em 3 grandes períodos :

FOTOGRAFIA CLÁSSICA – AS ORIGENS DA MODA

Cronologicamente vai desde o 1914 (considerada a data de nascimento da FdM) até os 1950s.

Socialmente trata-se de um período bastante homogêneo, onde a figura feminina é  co-protagonista em uma sociedade burguesa e masculina.
Este grande período abrange vários estilos como o pictorialismo do Baron Adolphe de Meyer, a teatralidade de Horst e Cecil Beaton, o construtivismo de George Hoyniguen Huene, o surrealismo de Man Ray e Erwin Blumenfeld, o fotojornalismo e a fotografia instantânea ao ar livre de Martin Munkacsi. Características de referência visual de todo este período são a composição das imagens segundo o padrão clássico da arte figurativa (perspectiva real), e a utilização da postura corporal da modelo para induzir a sensação desejada no espectador. Principais fotógrafos deste período: Baron de Meyer, George Hoyningen Huene, Horst P Horst,

Steichen, Cecil Beaton, Man Ray, George Platt Lynes, Martin Munkacsi.

 

FOTOGRAFIA MODERNA: DE 1950 A 1980 –
GLAMOURIZAÇÃO DA MODA

A 2ª guerra mundial obrigou as mulheres a entrar ativamente na vida social, o que provocou grande emancipação da figura feminina. Nada nos papéis sociais masculinos e femininos foi mais igual ao período anterior à segunda guerra. Esta enorme mudança social influencia também a figura feminina na representação da fotografia de moda. A mulher não é mais um *elegante cabide*, um manequim que assume poses para representar a condição social que o rico marido pode oferecer, mas um ser pensante, individual com uma personalidade real, e profunda. Ela tem *atitude* e isso deve aparecer na representação fotográfica.

O fotógrafo que mais representa esta mudança é Richard Avedon, considerado o precursor desta nova visão da mulher. O período MODERNO é muito rico e engloba momentos diferentes. Temos a época do New Look de Cristian Dior, os fotógrafos da Swinging London, o período da emancipação sexual da mulher, e finalmente a apoteose e completa glamourização do fenômeno da moda dos anos 1980. A composição fotográfica utiliza o padrão clássico da perspectiva com o objetivo de criar a tridimensionalidade na imagem. A modelo passa a adquirir movimento e aparece em um mundo real, ela pensa, age e tem paixões. Os modelos são escolhidos pela personalidade e o fotógrafo procura a expressão desta personalidade nas suas fotografias. A figura da mulher é glamourizada e ressaltar a beleza é o objetivo principal do fotógrafo. Fotógrafos deste período são: Richard Avedon, Irvin Penn, David Bailey, Guy Bourdin, Helmut Newton, William Klein, Débora Tuberville, Sara Moon, Herb Ritz, Bruce Weber, Peter Lindberg, Steven Meisel.

FOTOGRAFIA PÓS MODERNA: DE 1980 até hoje – DESGLAMOURIZAÇÃO DA MODA.

Acontece a segunda grande revolução juvenil, a partir de 1967, quando os jovens se rebelavam contra um sistema político e depois de 1977, quando os jovens se revoltam contra o mundo da imagem. No âmbito da fotografia de moda a grande indigestão de imagem, a extrema falsidade da imagem da modelo comparada com a realidade da vida de muitas delas, e o desejo de uma nova forma de expressão leva alguns fotógrafos a procurar um novo estilo fotográfico. Primeiro objetivo é quebrar com todos o paradigmas, as regras os padrões aplicados ate hoje. Os conceitos de composição, iluminação, atitude do modelo, padrão de beleza utilizados até aquele momento são totalmente renegados. O objetivo da fotografia é revolta, provocação e choque. As ferramentas técnicas utilizadas são composição e iluminação que induzem a sensação de bi dimensionalidade, dominantes de cor que deixam o tom de pele desagradável, luz que cria sombras nos olhos, posturas corporais deselegantes, expressões de modelo sofridas ou falta de expressão. Paralelamente cores vívidas e surreais, cenários oníricos, situações improváveis. Algumas imagens são emblemáticas desta época: a mais famosa é uma imagem de de Juergen Teller que mostra uma modelo famosa nua, recém acordada, descabelada, fumando, em um apartamento nada glamouroso . Outras imagem de Jurgen Teller são de um jovem se jogando do teto de um prédio, e um terno caríssimo segurado em um cabide queimando.

Paralelamente David Lachapelle mostra um close de uma mulher chiquérrima fazendo o gesto de cheirar droga… só que no lugar do comum pó branco estava uma carreira de diamantes, ou a imagem varias vezes apresentada de uma cena medieval com castelo e cavalo mas com uns tons caricaturais e cores irreais.

Esta época também traz vários outros estilos como punk, tecno-surrealismo, heroin chic, sexy-trash. Fotógrafos desta época são Corinne Day, Juergen Teller, David Lachapelle, Terry Richardson, Mario Sorrenti.

Capítulo a parte merece o fotografo cult do momento Mario Testino. Um pouco por não se encaixar em nenhuma das categorias acima e também pela relevância do seu trabalho na fotografia de moda, ele será tema de um próximo post.