ATO FOTOGRÁFICO

Pegar a câmera e sair fotografando não é a atitude que recomendo a quem é muito severo com os próprios resultados, a quem se questiona ou gosta de se colocar objetivos.

Antes disso, a assimilação de alguns conceitos que vão além da técnica fotográfica e um bom planejamento são essenciais para direcionar o ato fotográfico.

Por esta razão, começo esta apresentação falando de finalidade da imagem, comunicação visual e sentido fotográfico e não de exposição, iluminação ou direção de modelo.

 Podemos querer nos expressar através da fotografia por prazer pessoal ou por escolha profissional, mas, independentemente da motivação, a abordagem no processo criativo e prático para realizar uma imagem fotográfica é a mesma.

    OBJETIVO

 Finalidade da imagem: Em primeiro lugar, temos que ter um objetivo da alcançar: uma idéia, um conceito ou uma emoção a transmitir. O trabalho fotográfico só pode começar depois que o objetivo está claro e corretamente definido.

    COMUNICAÇÃO VISUAL

    Composição, iluminação e informação são os elementos que caracterizam a comunicação visual.

    A condição necessária para a definição de uma linguagem é a existência de um código e de um repertório estabelecidos. Isso não existe em relação às imagens.
    Conclui-se que, semanticamente, é uma aberração falar de comunicação visual.

    Mas, na prática, nós, fotógrafos, nos comunicamos diariamente através deles.

    O código e o repertório que não são codificados formalmente existem de fato.

    Entre todos os sentidos, a visão é o mais eficaz sistema de exploração do ambiente externo e, conseqüentemente, de defesa. Por isso, no decorrer do desenvolvimento da espécie humana ela assumiu importância crescente, até se tornar o sentido predominante. Com a evolução humana, a visão se desenvolveu, se aprimorou e ao mesmo tempo se carregou de elementos genéticos, dinâmicas internas (teoria da Gestalt) e fatores sociais e culturais.

    Tudo isso faz parte da existência diária de cada um de nós. Mas, no caso do fotógrafo, o conhecimento racional da bagagem de mecanismos que o sentido da visão carrega se transforma em um REPERTÓRIO informal, mas concreto.

    Com o estudo e o conhecimento empírico desse repertório e do código que o estrutura, foram percebidas as regras de composição e iluminação que produzem sensações específicas, e que devemos considerar nas nossas imagens fotográficas.

    Por fim, falando de conteúdo ou informação da comunicação, percebeu-se que, quando há uma figura humana na imagem fotográfica, ela se torna a informação predominante para o observador. Por isso, ao fotografar pessoas, não podemos esquecer a linguagem silenciosa do corpo, falada através de posturas e atitudes. Através da direção de modelo, podemos controlar este último elemento, que completa a nossa comunicação.

    SENTIDO FOTOGRÁFICO

    Sentido fotográfico é uma qualidade que todos nós fotógrafos devemos cultivar e que diz respeito à relação entre o que o SER HUMANO VÊ E O QUE A FOTOGRAFIA PODE PRODUZIR.
    A visão humana enxerga muito além daquilo que a tecnica fotográfica pode captar. O fotógrafo tem que se adaptar a essa realidade para poder imortalizar o que ele está percebendo.

    Uma tabela pode explicar visivelmente esta diferença.

    A coluna esquerda evidencia as características da visão humana e a direita, as que a técnica fotográfica apresenta.

Os primeiros cinco itens são relativos à percepção do espaço.
    Através do uso da composição fotográfica devemos representar as características que tornam tão interessante a percepção do espaço para o ser humano.
    O enfoque principal será em induzir a sensação de profundidade que falta na representação plana da imagem fotográfica. Alem disso, a escolha da objetiva produz o efeito de foco seletivo ou panfocus da visão humana. A perspectiva é controlada através do ponto de vista e este é regulado pelo tipo de objetiva usada. A visão periférica, a sensação do ambiente criada na visão humana, produzida com o continuo movimento dos olhos, é induzida através do enquadramento fotográfico e em particular trabalhando o ‘fora de campo’. O ponto de corte da imagem é encarregado de inserir informação sobre o ambiente sem poluir ou pulverizar a imagem. Por exemplo, mostrar parte de uma casa em uma imagem fotográfica de um sujeito em um fundo de gramado pode informar que a foto foi tirada no jardim desta casa; cortar parte da cabeça ou fazer um plano americano de um modelo não significa que a pessoa retratada esteja sem testa ou sem pernas. A figura humana será completada psicologicamente, mas ganharemos na síntese da imagem e daremos enfoque a detalhes que poderiam não aparecer em campos mais abertos.

    A sexta, sétima e oitava linhas da tabela contrapõem a capacidade de percepção da luz do nosso olho com aquela da técnica fotográfica.
    Configuração da câmera e iluminação são as ferramentas que permitem recriar nas imagens fotográficas a luz que ilumina o mundo ou criar uma nova luz para comunicar a nossa mensagem.
    Devemos escolher o formato de captura e o ISO, como trabalhar o contraste, como conter as variações de iluminação, gerenciar a latitude de exposição e lidar com as diferenças entre as dominantes de cor presentes na luz e as que o olho vê. Na prática, isso significa: optar entre jpg ou raw, cor ou preto e branco, temperatura de cor e filtros; controlar os contrastes; moldar a iluminação da cena em externa e compô-la em estúdio.

    A última linha se relaciona à percepção do movimento.
    O escorrer da vida vira um momento congelado na imagem fotográfica. Sem entrar no mérito filosófico do ‘instante fotográfico’, vamos analisar tecnicamente a representação do movimento. A fotografia pode congelar até uma ação muito rápida, a imagem fica nítida e instantânea. Um carro de fórmula 1, por exemplo, passando a 300 km/h pela linha de chegada pode ser imortalizado com tanto detalhe que se pode perceber a postura do piloto.
    Por outro lado, podemos optar por não bloquear o movimento. Neste caso, que chamaremos de borrado, o sujeito perde a definição do contorno e aparece como se estivesse repetido na imagem, que fica menos nítida. Esta técnica cria uma sensação de movimento, de vago e de indefinido.

    sentido fotográfico permite transpor para a imagem fotográfica todos os elementos evidenciados na comunicação visual. A imagem fotográfica assim criada alcança o seu objetivo, ou seja, transmitir o conteúdo que o fotografo quer.

    Os conceitos foram expostos, os fundamentos estabelecidos, os aspectos técnicos introduzidos. Agora sim podemos falar das técnicas, composição, iluminação e direção de modelo.